terça-feira, 24 de agosto de 2010

METODOLOGIA E FONTES DA TEOLOGIA ÍNDIA (TI)

Desde os primeiros encontros de teologia índia, passou-se a discutir a questão da metodologia da TI, pela diversidade de metodologias que foram surgindo na produção dos primeiros textos. Na base da questão metodológica porém, aparece entre outros um problema específico, pois “a discussão sobre o método foi considerada por alguns indígenas como ocidentalizante e totalmente alheia a questão indígena... De acordo com essa hipótese, o problema estaria mais naqueles que têm exigências metodológicas alheias, que não são próprias das teólogas e dos teólogos índios.” (C. Siller, 2000; p.287-288).

No entanto, prossegue o debate em torno da necessidade de uma metodologia para essa teologia que vem do mundo índio. Muitos atualmente não acham oportuno abordar um método para a TI, enquanto outros reconhecem a necessidade de uma apresentação sistemática e metódica, mais conforme o procedimento das demais teologias.

Alguns pontos agora nos ajudarão a procurar compreender melhor como essa teologia articula-se em vista de uma aproximação à metodologia, já que esta reflexão que se pretende teológica, não pode ser sociologia nem tampouco antropologia, visto que a ciência teológica “tem seu próprio campo, seu próprio objeto, seu método.” (C. Siller, 2000; p.290):

a) A matriz da teologia índia consiste em fazer a experiência de Deus na própria experiência. Essa experiência de Deus é que determina seu caráter teologal. É uma teologia essencialmente vivencial, que envolve os participantes na vivência religiosa, ritual e litúrgica, sobretudo a partir da vivência cotidiana, na qual deve perceber-se a presença e a ação de Deus.

b) A TI, ao falar da experiência teologal dos índios, nos fala como teologia narrativa, a partir do momento em que narra as experiências de Deus feitas pelo seu povo. Neste sentido, a experiência de Deus na vida transcende a própria experiência cotidiana.

c) Para partilhar essa teologia no âmbito das demais teologias, porém, essa experiência precisa ser refletida, enriquecida, sistematizada. É o necessário momento da comunicação, sem deixar de lado – e isso é próprio da cultura indígena – a referência fundamental à experiência teologal do povo. A comunicação supõe um contato com os destinatários da teologia e, portanto, o intercâmbio com outras culturas, semelhantes ou diferentes.

Fontes da Teologia Índia

A experiência religiosa e de fé que caracterizam os povos indígenas são sobretudo experiências que se movem sobre seus sentidos, palavras, símbolos e mitos. Neste sentido, podemos afirmar que a cultura é o veículo da teologia. E que só desta maneira o povo pode viver e entender a teologia. É a partir da própria cultura, como espaço vivencial onde se move a teologia, que podemos destacar algumas fontes da TI (cf. C. Siller, 2000; pp.295-296).

- monumentos arqueológicos e arquitetura;

- tecidos, bordados e cerâmica;

- crônicas, correspondências, códices, mapas e processos jurídicos;

- a religiosidade popular indígena;

- a palavra antiga, proferida pelos sábios e velhos;

- a experiência de Deus feita por aqueles que estão envolvidos nas questões econômicas, sociais e políticas atuais;

- a emergência atual dos povos e da cultura índia, com discursos densos, que denotam uma sabedoria própria em vista da causa por eles defendida, causa no qual Deus está profundamente comprometido.

É só a partir destas fontes, próprias da sua cultura, que os índios podem fazer teologia, podendo atingir vários níveis de produção. Contando com esses elementos fundamentais como base da vivência e para os momentos de reflexão é que se pode chegar a uma verdadeira sistematização teológica, que então poderá colocar a teologia índia em contato com o mundo das outras teologias, em vista de um diálogo enriquecedor:

“Os que não são indígenas, mas que acompanham pastoral e evangelicamente esses povos, podem também fazer teologia como uma tarefa convergente de apoio e de acompanhamento dessa caminhada, que deve ser feita pelos próprios indígenas. Quanto à teologia índia, o mais importante da metodologia é que sejam os próprios indígenas que a façam”. (C. Siller, 2000; p.296)

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Este espaço busca ser um lugar de interação com contribuições em temas relacionados às Culturas Afroameríndias, suas diversas manifestações e contextos. Nos campos de exposição, apresento em forma de reflexões alguns textos sociais, históricos, políticos, teológico-religiosos e educativos. Também o universo das artes e literaturas são outras referências, leituras e aprofundamentos, conforme este processo de interlocução dialógica em construção.
Agradeço-lhe pelo interesse em reconhecimento e atenção ao nosso trabalho!

Atenciosamente,
Reinaldo.

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