terça-feira, 24 de agosto de 2010

A Teologia Índia e a Igreja Católica da América Latina

Para López Hernández (2000; pp. 111-112):

“La TI és una interpelación radical a las teologías existentes i a la Iglesia em conjunto. La TI exige cambiar no sólo de contenidos o de sujeitos teológicos, sino elaborar nuevos modos de hacer teología: nuevos paradigmas. Pero esta interpelación radical coincide com em deseo generalizado de transformaciones profundas en la sociedad y em la Iglesia...”

Estes novos paradigmas, que via de regra chocam-se com uma prática teológica e pastoral homogeneizantes de séculos por parte da Igreja, tem dado causa à voz daqueles que vêem com receio a teologia índia. Argumentam que a TI não é verdadeira teologia, mas sabedoria popular. Aludem também para o fato de que ao utilizar a mediação de sua própria cultura, a TI se caracteriza como uma teologia imanentista e horizontalista.

Apesar dessas e outras dificuldades desde suas primeiras tentativas de fazer parte da vida da Igreja e da pastoral nos anos 70, a teologia índia recebeu pareceres positivos da Congregação para a Doutrina da Fé, em 1996 e 1999. A referida congregação afirmou poucos dias depois de uma reunião de comissões episcopais latino-americanas para a doutrina de fé em Guadalajara (1996), que:

“particularmente importante nos pareceu o acompanhamento da reflexão teológica a partir do mundo indígena [...] Merece o mais profundo respeito uma teologia que colabore para uma vida digna e para a comunhão com Deus e com os seus semelhantes.” (C. Siller, 2000; pp. 288-289 nota 3)

Mais recentemente porém, a mesma CDF apontou para os bispos mexicanos alguns problemas em relação à teologia índia:

- A TI põe em risco a unicidade da revelação de Deus, desprezando o papel normativo da revelação normativa. Não fica claro para a CDF que os índios não sejam politeístas e idólatras;

- A TI põe em risco a unicidade de Cristo, pois enfatiza as sementes do Verbo nas culturas, como se fossem outras encarnações de Cristo;

- A TI põe em risco a unidade da Igreja, pois afirma a necessidade de construir igrejas indígenas autóctones;

- A TI põe em dúvida o papel do Magistério dos Bispos, pois afirma que as comunidades são as donas de sua fé.

Para López Hernandez (2000, p.113):
“Estos temores no tienen ningún fundamento, pues se basan em um deconocimiento de la realidad indígena, o en una lectura descontextualizada de expresiones sueltas de personas o de encuentros indígenas. Los estereotipos o los prejuicios con que ellos miran la TI hacen incompreensible el verdadero sentido de sú procucción teologica.”

O mesmo autor indica três caminhos, que dizem respeito as tarefas da teologia índia para o futuro, que tentaremos resumir:

- encontrar estratégias eficazes de ação, que minorem ou acabem com os temores das instâncias de governo eclesiais a respeito do mundo indígena;

- elaborar os paradigmas e as ferramentas teológicas que ajudem a produzir teologia dos povos indígenas em solidariedade com as outras teologias do continente;

- trabalhar pela continuidade da TI na Igreja, que visem a valorização da teologia índia e seus sujeitos, para que a Igreja não perca seu lugar no futuro dos povos indígenas.

A teologia índia a partir de Aparecida

Apesar de o termo teologia índia não constar do documento conclusivo de Aparecida, outros termos demarcaram uma presença importante que colocaram a questão indígena como preocupação pastoral na Igreja, especialmente na análise da realidade (DA 88-95) e nas indicações pastorais (DA 548-550).

Paulo Suess (2007, pp. 80-83), analisa a questão indígena em Aparecida a partir do que considera o fio condutor do documento, que tentaremos resumir a seguir:

a) Os povos indígenas vivem hoje em uma situação em que a sua vida e existência estão ameaçadas. A globalização ameaça a todos com suas mudanças culturais impostas sobre sua identidade e seus projetos (DA 90). Os indígenas, neste sentido configuram uma nova categoria de pobres e excluídos (DA 416). Desta situação de pobreza emerge um grito que deve ser ouvido por toda a América Latina (DA 89; 473);

b) A Igreja comprometeu-se, em Aparecida a acompanhar a luta dos povos indígenas e cobrar da sociedade o respeito e o reconhecimento de sua alteridade (DA 89). A defesa dos territórios dos povos indígenas são elemento fundamental neste serviço ao Deus com rosto humano, que está sempre perto dos pobres e sofredores (DA 7; 22; 258; 549). Este apoio não deverá se sobrepor ao protagonismo dos próprios indígenas, mas o incentivá-lo;

c) O documento cita os povos indígenas como novos atores sociais, que ao tomar consciência de seu poder, poderão gerar transformações sociais importantes (DA 75). O protagonismo dos povos indígenas é sinal de esperança (DA 143). A diversidade de suas cosmovisões, valores e identidades pode forjar um novo Pentecostes eclesial (DA 91);

d)A participação dos povos indígenas na vida eclesial ainda depende de um processo de evangelização mais inculturada, com desdobramentos litúrgicos, no trabalho vocacional e na assunção das línguas indígenas como veículos de comunicação (DA 94; 101; 112; 339). Esta evangelização inculturada inclui denúncia, anúncio e diálogo, como dimensões essenciais da presença e do anúncio do Reino. E afirma ainda que muitos povos indígenas já receberam o Evangelho como discípulos e missionário de Jesus Cristo (DA 95).

Ainda para López Hernandes (2007), a V Conferência Geral de Aparecida configura-se como um momento kairótico no interior da Igreja, especialmente em relação à causa indígena:

Aunque hay que reconocer que en la Iglesia ningún documento del Magisterio pontificio o episcopal es en verdad punto de partida de nuevos procesos eclesiales, porque cada documento sólo refleja el consenso logrado hasta el momento y su pretensión es reforzar o matizar lo que las bases eclesiales ya están llevando a cabo, Aparecida manifiesta sin embargo, a mi parecer, un momento kairótico al interior de nuestra Iglesia que puede ser el inicio de una nueva etapa eclesial sobre todo en lo que se refiere a la causa indígena. Varios son los indicadores de ese nuevo momento, y los indígenas, sin pretenderlo, hemos llegado a ser un punto importante de referencia. El papel que jugamos antes, durante y ahora después de Aparecida dan cuenta de esta nueva relación intraeclesial que se construye.

Ainda que falte muito caminho ainda a percorrer, o desafio da inculturação é um dos principais desafios da Igreja de hoje. Sem esse pressuposto, não será possível uma evangelização eficaz, e tampouco uma nova evangelização, nos moldes da Conferência de Santo Domingo (1992). Toda a Igreja, e especialmente a Igreja Latino-Americana, com seu mosaico de culturas e religiosidades próprias, espera novos tempos onde as diferenças possam ser vistas como riquezas e consideradas como oportunidades novas onde o Evangelho, que é Boa-Nova de Deus em Jesus Cristo dê seus frutos de santidade e de vida em terras latino-americanas.

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Este espaço busca ser um lugar de interação com contribuições em temas relacionados às Culturas Afroameríndias, suas diversas manifestações e contextos. Nos campos de exposição, apresento em forma de reflexões alguns textos sociais, históricos, políticos, teológico-religiosos e educativos. Também o universo das artes e literaturas são outras referências, leituras e aprofundamentos, conforme este processo de interlocução dialógica em construção.
Agradeço-lhe pelo interesse em reconhecimento e atenção ao nosso trabalho!

Atenciosamente,
Reinaldo.

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