Jornada Ecumênica - PUCRS (2008)
Na foto: Profra Ms. Selenir Correa Gonçalves kronbauer e Reverendo Antº Olímpio de Santana (CENACORA). Na mesa da Reflexão e da partilha sobre a temática da Cartilha organizada pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI), na PUCRS, no dia 30 de setembro de 2009.
Participação final na mesa de diálogo: reflexão memorável do "Rev. Santana".
Padre Antônio Aparecido da Silva, mais conhecido como padre Toninho, de 59 anos, um dos maiores estudiosos e defensores da causa negra na Igreja, atribui à diversidade racial de Parapuã, na região de Marília (SP), onde nasceu, a felicidade de nunca ter sido vítima de preconceito. Exceto uma vez, quando anunciou que queria ir para o seminário.“Mas não existe padre preto!”, reagiu um vizinho, para espanto do menino.
Falou sorrindo, não parecia discriminação, pois era verdade. “Pensando bem, vi que eu também não conhecia nenhum padre negro naquela terra de imigrantes italianos, japoneses, nordestinos e mineiros”, lembra-se o padre Toninho, hoje professor de Teologia dos Sacramentos em faculdades de São Paulo e vigário de uma paróquia na Granja Viana.
Muitos anos mais tarde, quando era superior provincial da Pequena Obra da Divina Providência, fundada pelo italiano Dom Orione, o padre Toninho constatou que havia discriminação contra negros, uma discriminação institucional registrada em documentos. Pesquisando as atas da assembléia geral da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), de 1960, ele descobriu que a reunião foi para discutir se as congregações masculinas e femininas deviam receber ou não candidatos de cor.
“Não se falava de negros, mas de candidatos de cor, isso apenas dez anos após a aprovação da Lei Afonso Arinos, que proibia a discriminação racial”, disse o padre Toninho. Advertidos pelos assessores de que poderiam ser punidos por não admitirem negros, os participantes da assembléia saíram pela tangente: “Decidiram, como consta das atas, que pessoas de cor poderiam ser aceitas, mas só depois de ‘minucioso exame’, para saber se não eram indolentes ou de temperamento não compatível com a vida religiosa, explicitamente em relação ao voto de castidade e do celibato.”
Cinco anos depois, quando terminou o Concílio Vaticano II, mais de 4 mil padres deixaram o sacerdócio para se casarem. “Não eram negros, pois quase não havia padres negros, o que demonstrou que o problema não era racial, mas humano, das pessoas”, observa o padre Toninho. Apesar de dioceses e congregações religiosas terem riscado de suas normas e estatutos as antigas restrições contra os negros, as dificuldades continuaram.
“A existência de apenas 12 bispos negros, num episcopado com mais de 400 membros, é um absurdo, pois os afrodescendentes são quase 50% da população do Brasil”, disse o padre Toninho, com uma explicação óbvia para o problema: “Não tem mais bispos, porque não tem padres”. Se a situação melhorou em comparação com 30 anos atrás, a reação está apenas começando, em parte graças à Pastoral Afro, que desperta vocações.
Mesmo que não implantem a Pastoral Afro em suas dioceses, a maioria dos bispos concorda que ela é necessária. “Pode não haver entusiasmo, mas existe respeito”, disse o padre Toninho, um dos promotores da inculturação ou incorporação de valores africanos pela liturgia.Batizados e casamentos juntam danças, cantos e ritos africanos, especialmente o banto e o nagô, às cerimônias católicas. “O banto, aquele estilo do Milton Nascimento que a gente não sabe se está cantando ou rezando, vem dos negros de Minas e o nagô, o estilo exuberante de Gilberto Gil, vem dos negros da Bahia”, compara padre Toninho. Na mistura de culturas, o atabaque tem papel importante - a batida dos terreiros de candomblé animando as rezas nas igrejas.
HISTÓRIA
A conscientização começou a partir de 1988, centenário da Abolição, quando padres e freiras negros passaram a estudar sua condição na Igreja e seus compromissos com a sociedade. Reunidos, no início, em entidades como o Movimento Negro Unificado (MNU), criaram o grupo Agentes de Pastoral Negros (APN's) e, mais tarde, a Pastoral Afro-Brasileira. “Nossa geração viveu um momento privilegiado, porque tivemos bons professores que nos incentivaram nessa caminhada”, disse o padre José Enes de Jesus, de 55 anos, da Paróquia de Nossa Senhora de Casaluce, no Brás.
Em dobradinha com o padre Luiz Fernando de Oliveira, de 47 anos, da Paróquia Santo André Apóstolo, no Jardim Santo André, padre Enes trabalha com a comunidade negra desde que se ordenou, 18 anos atrás. “Não nos sentimos discriminados na Igreja, mas sabemos que padres e freiras negras sofreram preconceitos e até perseguições”, disse padre Luiz Fernando, citando o exemplo de uma congregação feminina. Casos de discriminação sempre são discutidos em reuniões de grupos negros da Igreja. Dos 552 negros que responderam à pesquisa do Ceris, apenas uns 100 estariam dispostos a se engajar em movimentos que assumem a negritude e defendem os direitos dos afrodescendentes, calculam os sacerdotes.
Algumas fotos, em recordação e homenagem:
Um REGISTRO importante em memória de um grande lutador para a causa Afro no Brasil : "Padre Toninho"
Reportagem sobre a caminhada de Padre Toninho
por José Maria Mayrink
Padre Antônio Aparecido da Silva, mais conhecido como padre Toninho, de 59 anos, um dos maiores estudiosos e defensores da causa negra na Igreja, atribui à diversidade racial de Parapuã, na região de Marília (SP), onde nasceu, a felicidade de nunca ter sido vítima de preconceito. Exceto uma vez, quando anunciou que queria ir para o seminário.“Mas não existe padre preto!”, reagiu um vizinho, para espanto do menino.
Falou sorrindo, não parecia discriminação, pois era verdade. “Pensando bem, vi que eu também não conhecia nenhum padre negro naquela terra de imigrantes italianos, japoneses, nordestinos e mineiros”, lembra-se o padre Toninho, hoje professor de Teologia dos Sacramentos em faculdades de São Paulo e vigário de uma paróquia na Granja Viana.
Muitos anos mais tarde, quando era superior provincial da Pequena Obra da Divina Providência, fundada pelo italiano Dom Orione, o padre Toninho constatou que havia discriminação contra negros, uma discriminação institucional registrada em documentos. Pesquisando as atas da assembléia geral da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), de 1960, ele descobriu que a reunião foi para discutir se as congregações masculinas e femininas deviam receber ou não candidatos de cor.
“Não se falava de negros, mas de candidatos de cor, isso apenas dez anos após a aprovação da Lei Afonso Arinos, que proibia a discriminação racial”, disse o padre Toninho. Advertidos pelos assessores de que poderiam ser punidos por não admitirem negros, os participantes da assembléia saíram pela tangente: “Decidiram, como consta das atas, que pessoas de cor poderiam ser aceitas, mas só depois de ‘minucioso exame’, para saber se não eram indolentes ou de temperamento não compatível com a vida religiosa, explicitamente em relação ao voto de castidade e do celibato.”
Cinco anos depois, quando terminou o Concílio Vaticano II, mais de 4 mil padres deixaram o sacerdócio para se casarem. “Não eram negros, pois quase não havia padres negros, o que demonstrou que o problema não era racial, mas humano, das pessoas”, observa o padre Toninho. Apesar de dioceses e congregações religiosas terem riscado de suas normas e estatutos as antigas restrições contra os negros, as dificuldades continuaram.
“A existência de apenas 12 bispos negros, num episcopado com mais de 400 membros, é um absurdo, pois os afrodescendentes são quase 50% da população do Brasil”, disse o padre Toninho, com uma explicação óbvia para o problema: “Não tem mais bispos, porque não tem padres”. Se a situação melhorou em comparação com 30 anos atrás, a reação está apenas começando, em parte graças à Pastoral Afro, que desperta vocações.
Mesmo que não implantem a Pastoral Afro em suas dioceses, a maioria dos bispos concorda que ela é necessária. “Pode não haver entusiasmo, mas existe respeito”, disse o padre Toninho, um dos promotores da inculturação ou incorporação de valores africanos pela liturgia.Batizados e casamentos juntam danças, cantos e ritos africanos, especialmente o banto e o nagô, às cerimônias católicas. “O banto, aquele estilo do Milton Nascimento que a gente não sabe se está cantando ou rezando, vem dos negros de Minas e o nagô, o estilo exuberante de Gilberto Gil, vem dos negros da Bahia”, compara padre Toninho. Na mistura de culturas, o atabaque tem papel importante - a batida dos terreiros de candomblé animando as rezas nas igrejas.
HISTÓRIA
A conscientização começou a partir de 1988, centenário da Abolição, quando padres e freiras negros passaram a estudar sua condição na Igreja e seus compromissos com a sociedade. Reunidos, no início, em entidades como o Movimento Negro Unificado (MNU), criaram o grupo Agentes de Pastoral Negros (APN's) e, mais tarde, a Pastoral Afro-Brasileira. “Nossa geração viveu um momento privilegiado, porque tivemos bons professores que nos incentivaram nessa caminhada”, disse o padre José Enes de Jesus, de 55 anos, da Paróquia de Nossa Senhora de Casaluce, no Brás.
Em dobradinha com o padre Luiz Fernando de Oliveira, de 47 anos, da Paróquia Santo André Apóstolo, no Jardim Santo André, padre Enes trabalha com a comunidade negra desde que se ordenou, 18 anos atrás. “Não nos sentimos discriminados na Igreja, mas sabemos que padres e freiras negras sofreram preconceitos e até perseguições”, disse padre Luiz Fernando, citando o exemplo de uma congregação feminina. Casos de discriminação sempre são discutidos em reuniões de grupos negros da Igreja. Dos 552 negros que responderam à pesquisa do Ceris, apenas uns 100 estariam dispostos a se engajar em movimentos que assumem a negritude e defendem os direitos dos afrodescendentes, calculam os sacerdotes.
Algumas fotos, em recordação e homenagem: