sábado, 25 de setembro de 2010

5.2. Guiné- Bissau e Cabo-Verde

Ao se falar dos movimentos de libertação da Guiné-Bissau e Cabo-Verde, é importante antes frisar que as duas nações estão sendo retratadas juntas porque, além de terem a mesma colônia, no caso Portugal, possuem também o mesmo herói nacional, Amilcar Lopes Cabral, fundador do PAIGC - Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo-Verde.

O regime ditatorial de Salazar imposta em 1933 reprimia todas as iniciativas tendente a democratização e não permitia nenhuma manifestação política, nem as reuniões, nem os debates, ainda menos a formação dos partidos políticos, sobretudo nas colônias. O regime barrava todos os caminhos para a reforma e não havia senão uma alternativa: a luta armada.

Fanon na sua assertiva sobre a violência colonial dizia o seguinte:
a violência que presidiu à organização do mundo colonial, que ritmou incansavelmente a destruição das formas sociais indígenas, demolidos sem restrições os sistemas de referência da economia, as modas de aparência, de vestuário, será reivindicada e assumida pelo colonizado no momento em que decidindo ser a história em ação, a massa colonizada se precipitar nas cidades interditas. *
*(in Fanon, Apud. MELO et al 162).

Esse momento referido pelo Fanon chegou à Guiné-Bissau em 19 de setembro de 1956 quando Amilcar Cabral e seus companheiros decidiram criar o PAIGC para reivindicar junto da autoridade colonial a independência da Guiné e Cabo Verde.

Durante quase sete anos o PAIGC lançaram mão aos apelos pacíficos a favor de uma mudança política e social por parte do colonialista, e, não obtiveram nenhuma resposta satisfatória, pelo contrário mantiveram em silêncio e redobraram a repreensão.

Com o massacre de três de agosto de 1959, o conhecido “Massacre do Pindjiguiti” que vitimou cerca de 50 marinheiros que protestavam contra administração portuário, pedindo aumento de salário e a melhoria de condição de trabalho, e foram prontamente reprimidos e obrigados pelos policias a voltarem ao posto de trabalho, levou aos dirigentes do PAIGC depois de uma reunião secreta nos arredores de Bissau a declarem a favor da luta contra os portugueses por todos os meios possíveis, compreendendo a luta armada (MELO et al p.165), já que não havia nenhuma mudança na política colonial e a violência aumentava cada vez mais.

Quatro anos mais tarde, concretamente em janeiro de 1963 iniciou a revolta armada com o ataque ao quartel de Guiledje no sul do país, principal aquartelamento português, onde os colonialistas portugueses sofreram um rude golpe. Já em 1966, três anos depois do inicio da luta armada, o PAIGC anunciou o controlo de dois terço do território nacional, declarando que a Guiné era um Estado em desenvolvimento, estando um terço do seu território a ser objeto de uma agressão imperialista, semelhante à que se verifica no Sul do Vietnam.

O PAIGC criou as suas próprias estruturas estatais nas zonas libertadas do controlo da administração colonial, o embrião da futura república independente: um eficaz sistema de administração comunal e de justiça popular, o fornecimento, pela primeira vez, de serviços de saúde e de ensino, a criação de uma rede de mercados e de distribuição dos produtos dos camponeses. Assim sendo, os habitantes das zonas libertadas que viram as suas vidas melhoradas, compreenderam a razão da luta, por isso, apesar dos bombardeamentos e das atrocidades a que estavam sujeitos, encontravam-se dispostos a continuar a apoiar o movimento de revolta, a participar na sua própria libertação, a construir uma vida nova destituída das dificuldades e dos sofrimentos da guerra.

Como reação o colonialista português deram uma passo audacioso na Guiné, nomeando em 1968 o Antônio de Spínola para o cargo de governador geral de Bissau, o que representou um desenvolvimento qualitativo da luta, porque reconheceu que existia um problema grave naquela pequena e inóspita província ocidental portuguesa: a guerra estaria quase militarmente perdida e a completa negligência das autoridades coloniais perante as necessidades e aspirações do povo sob a sua administração nominal tinham fornecido ao PAIGC um campo fértil de recrutamento e uma sólida base de apoio. A estratégia de Spínola, a única realista nas circunstâncias, foi dupla:

1) Reforçar o moral e a eficácia do exército colonial, na tentativa de estabelecer um «equilíbrio militar» com as guerrilhas;

2) Lançar uma campanha que visava angariar a simpatia e o empenhamento» do povo guineense, procurando enfrentar as suas principais carências, minando, por essa via, a base política do PAIGC (in Woollacott , John, p. 1134).

A campanha para uma Guiné melhor, iniciada por Spinola, constitui uma tentativa corajosa de liberalização política, de reforma social e de desenvolvimento econômico, adquirindo uma dinâmica própria e que, no contexto do colonialismo congenitamente atrasado de Portugal, foi notável nos resultados alcançados.

Mesmo com essa nova manobra, o colonialismo português não conseguiu neutralizar o rápido avanço do PAIGC e de outros movimentos de libertação nas suas colônias, caso do MPLA e do FRELIMO.

Paralelamente as conquistas militares, o PAIGC iniciou através do seu Secretário Geral, Amilcar Cabral, uma grande campanha internacional contra o colonialismo, denunciando atrocidades cometidas e informando o grande êxito do movimento de libertação que controlava na altura quase todo o território da Guiné.

Prontamente teve apoio da Organização das Nações Unidas e dos blocos Socialista (que solidarizaram com a causa desde o início) que exigiram ao regime do ditador Salazar a concessão da independência política das suas colônias.

Ainda nesse ambiente de pressão, o PAIGC proclamou unilateralmente a independência política no dia 23 de janeiro de 1973, na Madina de Boé em primeira Assembléia Nacional Popular. O Portugal só reconheceu um ano depois a independência da Guiné, com a queda do regime do Salazar através da revolução dos Cravos, o denominado 24 do abril de 1974.

Guiné-Bissau foi o primeiro país da colonização portuguesa que conquistou a sua independência na África e, isso abriu caminho para a independência no ano seguinte de outros territórios portugueses: Moçambique em 25 de junho, Cabo Verde em 05 de julho, São Tome e Príncipe em 12 de julho e Angola em 11 de novembro do ano de 1975.

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Agradeço-lhe pelo interesse em reconhecimento e atenção ao nosso trabalho!

Atenciosamente,
Reinaldo.

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