Uma provocação surgida em ocasião da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, reunido em Aparecida, em 2005:
“Que ninguém fique de braços cruzados. (...) Velamos pelo respeito ao direito que têm os povos de defender e promover os valores subjacentes em todos os estratos sociais, especialmente nos povos indígenas.”*
* (cf. Pp. Bento XVI, Discurso em Guarulhos No. 4)
“Esperamos... Valorizar e respeitar nossos povos indígenas e afro-descendentes.”
(cf. V CELAM – Mensagem aos povos da América Latina e do Caribe - in: www.celam.info – pesquisado em 30 de Abril de 2009).
Tratamos da importância de se valorizar os mesmos povos, pelo significado deles como ‘sujeitos’ e autores no contexto de suas comunidades.
Foram vários discursos que propuseram certa forma de ‘resgate’ ou ‘libertação’ dos povos afro-ameríndios, como a análise feita por Paulo Suess, como teólogo-crítico deste estudo:
Na antiguidade Greco-romana, os egípcios alcunharam seus vizinhos da região ao sul de Siene, atualmente Assuã (Ez 29,10), de etíopes, o que significa “caras queimadas”. Os autores da Bíblia hebraica conhecem esta região como cuch. Ao falar de cuch, Isaías anunciou que dali viria um povo de “pele bronzeada” para trazer dons a Javé e adorar o seu nome no monte Sião (Is 18,7). O batismo do etíope, por Filipe, narrado nos Atos dos Apóstolos (8,26ss), tem este fundo literário e teológico. O etíope dos Atos pede explicações de um texto de Isaías que fala do Servo de Javé. No tempo messiânico, o povo dos confins do mundo encontra o significado do Servo de Javé, não na servidão, mas no batismo que lhe permite “cheio de alegria continuar seu caminho” (At 8,39).*
* (cf. ROCHA, Manoel Ribeiro. Etíope Resgatado: Empenhado, Sustentado, Corrigido, Instruído e Libertado..., 1992, pp. IX-X.)
Na continuidade da crítica, ‘Suess’ expõe alguns aspectos, enquanto linguagem e hermenêutica:
Na tradução da Bíblia hebraica pelos Setenta (LXX) ao grego falado em Alexandria, no terceiro século AC [...] e na Vulgata, [...], cuch geralmente é traduzido por Aethiopia (...); Na época grego-romana, a alcunha etíope (“cara queimada”) se tornou designação genérica dos habitantes desde o sul do Egito, passando por toda África até aos países em torno do oceano Índico e à Índia. Mais tarde, etíope tornou-se nome genérico do negro (...); Etíope, portanto, significava na história colonial das Américas negro africano. E negro africano nas Américas, por mais de três séculos, era sinônimo de escravo. E, neste paradigma jurídico de resgate, se articula analogicamente a ‘salvação pela compra’ de africanos, que supostamente foram por inimigos tribais condenados à morte, com a salvação de pagãos pelo cristianismo, sem estes condenados à morte eterna. Nesta leitura ideológica, a escravidão representa uma dupla redução de pena: redução de pena de morte ao trabalho forçado e redução da pena fatal do inferno, prevista na doutrina cristã da época para os pagãos, às chances escatológicas de um cristão.*
*(ibid. ROCHA, Manoel Ribeiro. Etíope Resgatado..., p. X.)
A partir desta crítica, percebemos o que se pode concluir, posteriormente, Paulo Suess, reforçando sobre a realidade em torno do que buscamos afirmar neste estudo, a identidade afro-americana:
“os afro-americanos constituem uma das raízes da identidade latino-americana e caribenha, que foi arrancada da África e trazida para cá como gente escravizada. Sua história tem sido atravessada por uma exclusão social, econômica, política e, sobretudo, racial, onde a identidade étnica é fator de subordinação social.”*
*(cf. SUESS, Paulo. Dicionário de Aparecida: 40 palavras-chave para uma leitura pastoral do documento de Aparecida, São Paulo, Paulus, 2007, p.13.)
A “justificação teológica” da realidade de escravidão teve como autores-vítimados os indígenas e Afro-ascendentes. Passamos pela abordagem sobre a atual realidade destes povos neste ponto da reflexão.*
*[Onde sabemos que na América Latina e, em particular, no Brasil entre os mais pobres estão os negros conforme os dados indicadores de renda, saúde e educação (IBGE, PNAD, PNUD e outros correlatos).]
O que significa valorizar as experiências religiosas e as culturas de ascendência africana-indígena?
= “sentir e fazer” a experiência de resistência e de libertação Sócio-histórico-teológico destes povos;
= o desenvolvimento da Teologia Índia e da Teologia Afro na América Latina;
= Apontamentos, correções e reparações de questões ainda candentes em nosso contexto, principalmente quando mal afirmadas, explicitadas anteriormente*.
*[Referindo-me às abordagens que justificaram as várias formas de subordinação dos povos afro-ameríndios e suas experiências religiosas, onde pelo “viés teológico” cometeu-se equívocos que ainda não se avançou suficientemente na reflexão teológica e no aprofundamento do diálogo inter-religioso, por exemplo.]
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Este espaço busca ser um lugar de interação com contribuições em temas relacionados às Culturas Afroameríndias, suas diversas manifestações e contextos. Nos campos de exposição, apresento em forma de reflexões alguns textos sociais, históricos, políticos, teológico-religiosos e educativos. Também o universo das artes e literaturas são outras referências, leituras e aprofundamentos, conforme este processo de interlocução dialógica em construção.
Agradeço-lhe pelo interesse em reconhecimento e atenção ao nosso trabalho!
Atenciosamente,
Reinaldo.