"Conhece-te a ti mesmo"*
* [Gnothi Seauton (do grego antigo: γνῶθι σεαυτόν, "conhece-te a ti mesmo"), aforismo que tradicionalmente estava inscrito nas paredes do Templo de Apolo em Delfos, na Antiga Grécia, e que é muito citado pelo filósofo Sócrates nos relatos de seu pupilo, Platão. O oráculo do templo teria proclamado Sócrates o homem mais sábio na Grécia, ao que Sócrates respondeu com a célebre frase: "Só sei que nada sei"- in: http://wikipedia.org/]
O documento da quinta conferência episcopal latino-americana no Capítulo décimo, com o tema “Nossos povos e nossa cultura”, parece esboçar um processo de afirmação das origens culturais e religiosas dos povos latino-americanos.
Pedagogicamente entendida como uma “assunção” destes povos e destas culturas:
“O verbo assumir é um verbo transitivo e que pode ter como objeto o próprio sujeito que assim se assume”.*
* [Paulo Freire define bem o sentido desta concepção de assunção, que no seu modo de entender passa pela significância e importância deste verbete cf. in. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia, 1996, p. 41]
"A integração dos indígenas e afro-americanos e, apontamentos como Caminhos de reconciliação e solidariedade" * [cf. in. Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, 2007, pp. 215-241.].
O documento mencionado também fala de “reconhecimento” : [“O seguimento de Jesus (...) passa também pelo reconhecimento dos afro-americanos como desafio que nos interpela para viver o verdadeiro amor a Deus e ao próximo” (cf. n. 532).]
O diálogo com as culturas, pode vir a ser uma experiência de fé e de responsabilidade.
O conhecimento das religiões de matrizes africanas com suas experiências, pode trazer um verdadeiro sentido de afirmação de uma identidade, identificação e de “encontro”, como uma experiência com Deus - isso é um forte exemplo do que estamos querendo dizer.
O inicio de um diálogo com o “outro”, “para o outro”, seria um assumir com responsabilidade, unidade e reciprocidade, na diversidade. Uma experiência divinizada:
Estar sob o olhar sem descanso de Deus é precisamente, em sua unidade, ser portador de um outro alguém – carregador e apoiador –, ser responsável por esse outro, como se a face, entretanto invisível, do outro prolongasse a minha e me mantivesse alerta em nome de sua própria invisibilidade, em nome do imprevisível do que nos ameaça. (...) Maneira essencial para o ser humano de estar exposto até o ponto de perder a pele que o protege, pele tornada totalmente face, como se, nucleando em torno de si, um ser sofresse uma desnucleação, e desnucleando-se, fosse “para o outro”, antes de tudo, diálogo!*
*(Cf. LEVINAS, Emmanuel. Do sagrado ao santo: cinco novas interpretações talmúdicas, 2001, p. 144.)
Como desafios para a teologia que se concretiza enquanto projeto de alteridade, como Luiz Carlos Susin interpreta partindo de Levinas, no sentido de responsalidade e ética, expressa não como palavra que me conduz a Deus, mas como palavra de Deus que conduz o outro a mim:
A palavra que Deus profere não é sobre si, mas sobre o homem, como palavra ética – seu dom e sua imagem – e é mandamento e Lei. O outro é enviado a mim para uma história e um drama de responsabilidade ética. A conclusão de nosso autor hebreu é que a religião não necessita então de outro fundamento além da ética, ou melhor, a ética é religião.*
*(cf. SUSIN, Luiz Carlos. Homem Messiânico – uma introdução ao pensamento de Emmanuel Levinas, 1984, p. 254)
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Este espaço busca ser um lugar de interação com contribuições em temas relacionados às Culturas Afroameríndias, suas diversas manifestações e contextos. Nos campos de exposição, apresento em forma de reflexões alguns textos sociais, históricos, políticos, teológico-religiosos e educativos. Também o universo das artes e literaturas são outras referências, leituras e aprofundamentos, conforme este processo de interlocução dialógica em construção.
Agradeço-lhe pelo interesse em reconhecimento e atenção ao nosso trabalho!
Atenciosamente,
Reinaldo.