quinta-feira, 11 de novembro de 2010

CONFLITOS DE AFIRMAÇÃO IDENTITÁRIA E ASCENDÊNCIA AFRICANA

O pesquisador Stuart Hall critica o modo de conceber uma identidade fixa, pois:

“dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções... nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas. Se sentimos que temos uma identidade unificada ... é apenas porque construímos uma cômoda estória sobre nós mesmos ou uma confortadora “narrativa do eu”. (...) na medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar.*
*(cf. HALL, Stuart, A identidade cultural na pós-modernidade, 2005 p. 13)

Mas: - onde e como “este sujeito” (que se pergunta) encontra resposta para si mesmo quando quer afirmar-se frente a relação “interativa” com outras identidades e culturas? Sendo ele mesmo enquanto sujeito originário de uma determinada cultura? [Pergunta referida a “este indivíduo” que se pergunta sobre sua identidade, enquanto a desconhece como “raiz” histórica, originária, familiar, ascendente (onde se baseiam os antropólogos que afirmam existir a raiz identitária cultural já presente neste indivíduo, mesmo que ele a desconheça, cabendo-lhe apenas encontrá-la, descobri-la neste processo de procura pessoal ou coletiva), quando este o faz em determinados grupos sociais e religiosos que se preocupam com esta busca (movimentos, organizações, comunidades etc.).]

No contexto brasileiro, o problema relacionado à identidade trouxe desde o período pós-escravista, uma questão ainda não resolvida, mencionado pelo antropólogo Kabenguele Munanga:

O fim do sistema escravista, em 1888, coloca aos pensadores brasileiros uma questão até então não crucial: a construção de uma nação e de uma identidade nacional. Ora, esta se configura problemática, tendo em vista a nova categoria de cidadãos: os ex-escravizados negros. Como transformá-los em elementos constituintes da nacionalidade e da identidade brasileira quando a estrutura mental herdada do passado, que os considerava apenas como coisas e força animal de trabalho, ainda não mudou? Toda a preocupação da elite, apoiada nas teorias racistas da época, diz respeito à influência negativa que poderia resultar da herança inferior do negro nesse processo de formação da identidade étnica brasileira.*
*(cf. MUNANGA, K. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil – Identidade Nacional versus Identidade negra, 2008, p. 48)

Por sua vez, Kwame Anthony Appiah problematiza a questão, contrapondo o entendimento de que o critério “raça” seja importante para se constituir a identidade de “uma vasta família de seres humanos de história [e] tradições comuns”:

É bem possível que a história nos tenha feito o que somos, mas a escolha de uma fatia do passado, num período anterior ao nosso nascimento, como sendo nossa própria história, é sempre exatamente isso: uma escolha. Embora a expressão “invenção da tradição” tenha um ar contraditório, todas as tradições são inventadas.*
*(cf. APPIAH, Kwame Anthony. Na casa de meu pai: a África na filosofia da cultura, 1997, p. 59.)

Isso reflete sobre aspectos da ideologia implantada nos modos de como se concebe o conceito de raça.

Parece, talvez, que o auto-conhecimento, no interior dos processos formativos, também teológicos, seja uma das respostas.

Seria possível afirmar-se ou rejeitar-se pessoalmente (individualmente), afirmando ou rejeitando a história, as “raízes”, as “origens sócio-culturais e religiosas”? Este autor diria que sim, enquanto outro parte sobre “o que” fomos feitos historicamente, culturalmente, como algo necessário para a afirmação de uma identidade cultural – individual e coletiva:

Recapitular o conceito de identidade significa esboçar a sua história (e toda a história) e que para estudar a sua construção será preciso estabelecer algumas dimensões deste problema universal, devendo também ser visto como processo do indivíduo, na cultura, pois é esse processo que estabelece, de fato, a identidade individual e coletiva.*
*(cf. ERIKSON, E. E. Identidade, Juventude e Crise, 1987, p. 13.)


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Este espaço busca ser um lugar de interação com contribuições em temas relacionados às Culturas Afroameríndias, suas diversas manifestações e contextos. Nos campos de exposição, apresento em forma de reflexões alguns textos sociais, históricos, políticos, teológico-religiosos e educativos. Também o universo das artes e literaturas são outras referências, leituras e aprofundamentos, conforme este processo de interlocução dialógica em construção.
Agradeço-lhe pelo interesse em reconhecimento e atenção ao nosso trabalho!

Atenciosamente,
Reinaldo.

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