quinta-feira, 11 de novembro de 2010

EXPERIÊNCIAS RELIGIOSAS E CULTURAS: ALGUMAS ANÁLISES

Uma primeira constatação é o da importância da religião como formação moral, dentro das culturas e, conseqüentemente, em todas as sociedades - especialmente as tradicionais que deram origem a todas as demais hoje, contextualmente.

Na concepção de Durkheim, quanto ao desenvolvimento das sociedades, as crenças e os valores religiosos do “bem comum”, no convívio social, e na reprodução das condutas morais, exercem um papel fundamental.

A religião seria “coisa social” e as representações religiosas exprimiria realidades coletivas, e acrescenta:

... há ritos sem deuses, e há até ritos dos quais derivam deuses. Todas as virtudes religiosas não emanam de personalidades divinas e há relações cultuais que têm objetivos diferentes do de unir o homem e uma divindade. A religião ultrapassa, portanto, a idéia de deuses ou de espíritos e, por conseguinte, não pode definir-se exclusivamente em função dessa última.
(cf. DURKHEIM, Émile. As formas elementares de vida religiosa, 1989, p. 67.)

Mas ultrapassa uma análise simplesmente filosófica ou sociológica do fenômeno, partindo de Rudolf Otto:

Negligenciando o lado racional e especulativo da religião, Otto encontrou-se sobretudo no seu lado irracional. Porque Otto tinha lido Lutero e compreendera o que quer dizer, para um crente, o “Deus vivo”. Não era o Deus dos filósofos, o Deus de Erasmo, por exemplo; não era uma idéia, uma noção abstrata, uma simples alegoria moral. Era, pelo contrário, um poder terrível, manifestada na “cólera” divina.
(cf. ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano – a essência das Religiões, s/d. p. 23.)

E, ainda:

... O que é preciso sublinhar é que, desde o início, o homem religioso situa o seu próprio modelo a atingir no plano trans-humano: o revelado pelos mitos. O homem só se torna em verdadeiro homem conformando-se ao ensinamento dos mitos, quer dizer imitando os deuses.
(ibid. ELIADE, M., p. 112.)

Numa análise antropológica, Geertz considera que:
“a dimensão simbólica da religião fornece os padrões culturais da sociedade, considerando o símbolo” como uma metáfora, uma imagem que representa um conceito.
(cf. GEERTZ, Clifford, 1989: 146)

Há limites, porém, das experiências humanas que transcendem, como no exemplo do “sacrifício”, em considerações de Evans-Pritchard como uma “representação dramática de uma experiência espiritual”:

“O que é essa experiência o antropólogo não pode saber com certeza. Experiências desse tipo não são comunicadas com facilidade mesmo quando as pessoas estão dispostas a fazê-lo e dispõem, para isso, de um vocabulário sofisticado. Ainda que a prece e o sacrifício sejam ações exteriores, a religião nuer é, em última instância, um estado interior. Esse estado é externalizado através de ritos que podemos observar, mas seu significado depende finalmente de uma tomada de consciência em relação a Deus e ao fato dos homens serem dele dependentes e deverem se resignar à sua vontade. Nesse ponto, o teólogo toma o lugar do antropólogo”
(cf. Evans-Pritchard, 1956: 322).

As vivências ligadas às culturas dos povos e às experiências feitas como prática de “religiosidade”, apresenta-nos a “busca pelo sentido” por parte dos crentes:

Acontece também que os funcionalistas, concentrando-se no papel social da religião, descuram o sentido que a religião tem para os que a praticam. Weber jamais esqueceu que a compreensão da religião permanece incompleta enquanto não se atenta ao sentido que ela tem para os crentes. O próprio Parsons, que desenvolveu a abordagem funcionalista, observa que esta abordagem facilmente leva a esquecer que a religião não se esgota na dimensão social, que ela tem de fato referência ao mundo invisível.
(cf. BAUM, Gregory. Definições de Religião na Sociologia. In: Concilium/156 – 1980/6: pp. 40[744]-41[745])

O sentido que trazemos sobre a compreensão das teologias cristãs africanas, mostram o quão significativo se torna afirmar uma experiência de fé herdada no interior de uma comunidade que une com a prática os aspectos da vida do “ser africano”, “afro-ascendente”:

A religião penetrou cada aspecto da vida de tal maneira que é impossível extraí-la como simplesmente um elemento da herança tradicional. Ser africano na sociedade tradicional significa ser uma pessoa religiosa, ter uma interpretação religiosa da vida.
(cf. McVEIGHT, Malcolm. A Compreensão da Religião nas Teologias Cristãs Africanas. In: Concilium/156 – 1980/6, p. 77[781])

Uma interpretação teológica africana da realidade vista unida ao todo, holisticamente, articulando uma análise sobre o documento conclusivo da Conferência Pan-Africana de Teólogos do Terceiro Mundo, em Accra, Ghana (em 17 a 23 de dezembro de 1977):

“Afirmamos que nossa história é ao mesmo tempo sagrada e secular” (...) “Na estrutura tradicional não havia dicotomia entre o sagrado e o secular. Ao contrário, o sagrado era experimentado no contexto do secular (...).
Os teólogos africanos têm plena consciência daquilo que ocorreu devido ao impacto da cultura ocidental sobre sua vida ordinária. Eles não rejeitam o cristianismo, mas estão convencidos de que a interpretação ocidental do mesmo produziu distorções. (...) Num sentido pode-se descrever a presente fermentação na teologia africana dentro do contexto do tema da libertação: a saber, salvação como libertação. (...) Jesus preocupava-se com o perdão dos pecados, mas também com a cura da doença e a libertação dos pobres e oprimidos.
(In ibid.: McVEIGHT, Malcolm, pp. 75[779]-80[784])

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Este espaço busca ser um lugar de interação com contribuições em temas relacionados às Culturas Afroameríndias, suas diversas manifestações e contextos. Nos campos de exposição, apresento em forma de reflexões alguns textos sociais, históricos, políticos, teológico-religiosos e educativos. Também o universo das artes e literaturas são outras referências, leituras e aprofundamentos, conforme este processo de interlocução dialógica em construção.
Agradeço-lhe pelo interesse em reconhecimento e atenção ao nosso trabalho!

Atenciosamente,
Reinaldo.

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