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Podemos nos afirmar em nós mesmos, mas sem desprezar o outro... |
Parece soar bem simples o título deste texto,
mas não é bem assim. Somos seres complexos e, em muitos casos, esses
questionamentos aparecem. De modo que podemos situar algumas concepções.
Ser negro/a se resume à tom ou coloração de
pele, formato de cabelo, opção política, raça, etnia, DNA... o que, enfim? O
que define o nosso ser? Quem somos nós? Como nos vemos?
Fazemos-nos no curso da vida. Ninguém nasce
pronto. Evidente que não devemos desmerecer quem em suas dificuldades pergunta
sobre si nos jardins da vida. Vida é um conceito mais amplo da nossa
existência, que tenta abarcar aquilo que significa “ser no mundo”, com toda
diversidade. Mas, se temos diferenças, como seres humanos, o que define o Ser Negro(a)?
Além da definição, quais os desdobramentos que
implicam o ser no viver em uma
sociedade como a nossa? Aliás, não nascemos em uma sociedade de iguais? O que justifica
lutarmos pela igualdade? Mas, igualdade em que? É bom deixar bem claro, ou esclarer. Mas, por que não deixar negro mesmo, ou melhor, enegrecer?
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Um visionário sobre a realidade social, política que precisa ser retomado sempre... |
Já que falamos em conceitos, ou terminologias
e desdobramentos, por que também não continuamos a buscar novos caminhos para
entender nossa história, que não foi contada direito? Isso porque a perspectiva
foi sempre daqueles(as) que aqui passaram carregados(as) dos seus interesses...
Ou acreditamos nela (a história) tal qual foi contada (pela escola, pelas
ideologias, pelos esteriótipos)? Ainda, se antes não fomos “capazes” pela
constituição social e política de construirmos a nossa história, hoje
podemos... ou não?
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"Dom Hélder Câmara: um dos maiores defensores da libertação e da vida, do nosso tempo." |
Há que se dizer, além do que já foi dito, que
Educação, Direitos e Justiça são espaços de poder por excelência, e a liberdade
nos cabe como critério de recontar e reivindicar esses lugares que realmente
nos foi negado. Por que?
São tantas falas pejorativas que a gente acaba
se perdendo no discurso, muitas vezes, e reproduzimos o que nos oprimiu. Recordar
é também viver, é fazer memória. É trazer de novo à tona, ao coração, com poder
de mudar o rumo da própria história, de forma crítica. Por isso, o ensino, o
conhecimento, é indispensável para libertação das estruturas que exploram a
vida.
Como reflete Paulo Freire: “Ensinar o
povo a ver criticamente o mundo, é sempre uma prática incômoda para os que fundam
seus poderes sobre a inocência dos explorados”.
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Como entendemos o significado do poder, contextualizando-o? |
Mas, quais os tipos de poder que são
fundamentais pensarmos com os efeitos em nossa identidade? Além da memória sobre
nossa história e dos poderes constituídos (executivo, legislativo e judiciário)
há um outro tipo, que na prática funciona também para manter os demais, sobre
símbolos, mitos e crenças de muitas formas. É o “poder religioso” (que se
aplica como ideológico também). E esse, particularmente, é fundante na
estrutura social.
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"A estrutura social continua piramidal e nada democrática, quanto à igualdade de oportunidades" |
Eis uma importante constatação razoável sobre
nós e o que aqui procuramos pensar: “O nosso ser-no-mundo determina o nosso
estar-no-mundo”! Por que estamos hoje aqui? Aliás, onde estamos? Onde queremos estar
e para quê? O que fazemos que não estamos ainda onde queremos (...)? Ou, se
estamos, porque a maioria de nós (negros) não temos oportunidade de chegar à
lugares de poder (político, econômico, religioso)? Ainda: por que não
conseguimos mudar as realidades de opressão que nos cerca? Se sofremos juntos
por que não lutamos mais juntos? Por que vivemos tão separados/segregados em
torno de nós mesmos, ou de pequenos grupos que mal conseguem fazer um trabalho
sistêmico de transformação? O que atrapalha desenvolver nossos talentos?
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Inspiração nas lutas e no ideal de união nos movimentos... |
Sobre essa lógica do poder, na sociedade, a
vida das pessoas negras são pré-determinadas? Se a resposta for não: por que a
desigualdade social é tão mais gritante para a população negra, se comparada a
população branca e demais grupos, exceto dos povos indígenas? Nem precisa citar
dados, basta ver que nas estatísticas há muita diferença no aspecto mais
prejudicial aos negros e índios. Por que isso?
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Uma das maiores lutas e desafios nas periferias das grandes cidades brasileiras. |
Retornando à pergunta original, com o acréscimo
dos argumentos, o que significa Ser Negro hoje, para nós e para os outros? Vamos
refletir mais? Lutar mais? Ou, melhor seria esquecer e colocar uma pedra sobre
tudo isso?
Finalizo, citando um provérbio africano:
“Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, consegue
mudanças extraordinárias”.
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Foto: Correio da Unesco | Texto da foto: Jorge Posada |