segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Viver no espírito...


UBUNTU = "Eu sou porque nós somos"

Texto para a Espiritualidade Afro | Autor: Reinaldo João de Oliveira


“Na vida, no caminho, na religião, tudo tem uma razão, uma lição. Até mesmo o que está dando errado.”


Precisamos viver no espírito, uma reconstrução de nós mesmos. Mas, o Espírito que nos guia tem o poder de nos transformar? Claro que sim, e possuímos uma base que se constitui nas experiências e Sabedorias ancestrais AfroAmeríndias: a luz desse Espírito que brilha em nossa realidade nos desafia!
Vivemos em contextos muito diversos, num mundo com rápidas mudanças e impactos destruidores nas condições de vida da humanidade no planeta. Particularmente o nosso Povo vive em condições desumanas de Submoradia, Subnutrição, Subemprego... Precisamos de método para seguir:
No espírito do ver: é necessário ter uma visão aberta para acolher o que o nosso espírito interior e integrador nos diz, inspirando novos e diferentes posicionamentos na busca para uma cultura da vida. Precisamos ter atitude de respeito e reciprocidade com todas as demais pessoas e seres, com o universo.
Poucos conseguem compreender o sentido da missão dos nossos Profetas e Mártires: ao fazerem a experiência mística de Javé, descobrem a sacralidade da Terra e percebem que Deus vê, escuta, conhece e se aproxima do povo oprimido. Assim, em nome de Deus libertador, esses/as que souberam ver a vida dos nossos ancestrais escravizados/as, se organizam para construir vida digna para todos. Vendo e sonhando juntos, conseguiremos atravessar as dificuldades e vencer.
No espírito do julgar: o que implica em nova postura que exige rupturas, ou seja, rompimento com sistemas e esquemas mentais dominantes para ultrapassarmos para o outro lado, a “Terra sem Males”: fazer disso um projeto de vida! Julgar implica ter consciência da justiça para promover a vida onde não há, para que não haja mais explorados e escravizados, nem exploradores. Assim, devemos perseguir o sonho e a crença na caminhada do povo em busca de dignidade e autonomia, coletivamente.
Para isso, é essencial uma inspiração bíblica com a revelação do sonho que gerou o Êxodo (Ex 15,2-21). Quando a esperança é forte, ela engravida a história. Nestas circunstâncias, animados pelo desejo de libertação e pela presença do Deus libertador que escuta o clamor do nosso povo (Ex 3,7-10).
No espírito do agir: agindo com a prática e inspiração bíblica, continuamos a caminhada, com a fé, ousadia e coragem dos escolhidos por Jesus, para o Reino de Deus que sofre ação violenta: “desde os dias de João, o Batista, até agora, o reino dos céus sofre violência...” (Mt. 11,12), e entraremos nele!
Jesus nos inspira, pois conheceu na sua carne o significado da violência, na dor, nos sofrimentos. E, assim como o Mestre, somos vítimas da opressão, junto a quem luta pela causa da justiça. Todo este caminho é libertador, pois carrega a solidariedade transgressora, particularmente das mulheres (Ex 1,15-22). Assim foi na ação da mãe e da irmã de Moisés (Ex 2,1-4). Depois, a ação e a fé na salvação, vinda com as primas Izabel e Maria e seus filhos João Batista e Jesus de Nazaré (a salvação da morte prematura dos nascidos e capacitados para liderar o povo, na travessia da escravidão para a liberdade).
No espírito do celebrar: ansiando a luta contra a opressão, o sentido da celebração (Ex 15,19-21)! Celebrar é preciso, mas só não basta! Antes, o povo precisa sair do Egito, da terra da escravidão. Na celebração está o sentido da memória de todos os que lutaram e de quem hoje luta para construir um futuro. Na celebração está implícito o caminhar pelo deserto e a confiança na força de Javé, no projeto de autonomia, liberdade e vida com dignidade para todos!
O resgate desta memória do êxodo bíblico pode ajudar-nos a superar a tentação do “ter”, a ganância e a ambição desmedida de acumular ou de consumir. O texto de Êxodo 16,16-18 pergunta-nos se somos capazes de partilhar bens, saberes, dons; se aceitamos aprender algo das antigas sabedorias afroameríndias; se somos capazes de vivenciar a experiência sagrada de dialogar e de comer juntos; se estamos dispostos a recuperar a dignidade da nossa espécie, do nosso povo, como Povo de Deus.



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Este espaço busca ser um lugar de interação com contribuições em temas relacionados às Culturas Afroameríndias, suas diversas manifestações e contextos. Nos campos de exposição, apresento em forma de reflexões alguns textos sociais, históricos, políticos, teológico-religiosos e educativos. Também o universo das artes e literaturas são outras referências, leituras e aprofundamentos, conforme este processo de interlocução dialógica em construção.
Agradeço-lhe pelo interesse em reconhecimento e atenção ao nosso trabalho!

Atenciosamente,
Reinaldo.

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