por Reinaldo João de Oliveira
in Artigo: Teoafricanidades em diálogos e perspectivas

Alguns exemplos e modelos podem ser ilustrativos para um novo esboço de construção social e também cultural-religioso, como num olhar diferenciado.
UM OLHAR AFRODESCENDENTE

Mais do que uma concepção não fundamentada empiricamente, como quiseram afirmar antes, devemos ultrapassar os paradigmas que ainda perduram no consciente coletivo (implantado), sobre a inferioridade do negro frente a sociedade em que vivemos. Não se sustenta essa e outras idéias aplicadas, em que qualquer ciência até aqui nunca conseguiu provar através de teorias raciologistas. De fato, poderíamos afirmar categoricamente que raça não existe, mas que o racismo ainda insiste permanecer na mente de muitos das sociedades em que vivemos, mascarados ou já definidos pela tonalidade da cor epidérmica (Frantz Fanon, 1983. Pele Negra, Máscaras Brancas).

A IMPLICÂNCIA DA FALA
Outro ponto a ser construído, em diálogo teoafrodescendente, seria o de pensar sobre o fenômeno da “reafricanização” – a partir do exposto, que não é o mesmo no entendimento acerca do ‘sincrético’. Assim, hoje alguns teóricos afirmam existir um forte movimento com intuito de tornar o Brasil mais africano, como analisam algumas dessas “falas”, no interior das Religiões de Matriz Africana:
Reafricanização é um processo sofrido por pessoas já praticantes do Candomblé, do Batuque ou da Santería (ou outros cultos comparáveis como tambor de mina ou xangô) que insatisfeitas com o conhecimento religioso que receberam, viram-se para a África de hoje, especialmente para a região dos iorubás, como fonte verdadeira de conhecimento teológico e ritual. Por meio desse processo, a África vem a ser vista não só como a origem remota da tradição religiosa, mas também como modelo contemporâneo para sua prática. As atuais crenças e práticas religiosas africanas (principalmente iorubá) assumem posição de primeiro plano. Os seguidores reafricanizados (que vivem, em sua maioria, em situações de diáspora secundária) tomam aulas de língua e de cultura iorubá, compram livros sobre o sistema advinhatório de Ifá, usam roupas e exibem imagens e artigos rituais importados do país dos iorubás, e às vezes são iniciados por praticantes dessa origem (Prandi 1991; Silva 1995; Palmié 1995; Capone 1999a, 1999d – in: Alejandro Frigerio, 2005, p. 141).
Como crítica, para o pensamento atual, está superada, em muitos aspectos, algumas reflexões feitas por estudiosos há certo tempo, mesmo vendo voltarem pensar em “transplantes” políticos – até no sentido da educação. É o que sempre procurou fazer no Brasil, através de literaturas e concepções herdadas, que estão em base à polêmicas não passíveis de aceitação, como um modelo para a Educação. Simples exemplo recente foi uma polêmica, trazida como debate nacional acerca de uma das obras de Monteiro Lobato, utilizada na rede pública, com traços não contextualizados e muito menos favoráveis a um bom desenvolvimento ético da educação como combate à discriminação. Outra repercussão anterior, que teve a postura e o desejo do próprio autor, Lobato, na publicação de um ensaio, objetivando que se tornasse um “best-seller nos Estados Unidos”, caiu no fracasso e, inclusive, foi considerado como “ofensivo à dignidade americana”.
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Uma das primeiras edições. |
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Edição em idioma espanhol. |
Para entender melhor, esse recorte em sua extensa produção, Muniz Sodré desenvolve melhor o seguinte:
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Claros e Escuros: Identidade, Povo e Mídia no Brasil |
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Neste nosso estudo, nos baseamos na primeira edição deste, que tem como complemento ao título: "Por Um Conceito de Cultura No Brasil" - CODECRI, RJ, 1983. |
Assim, questionamos e fundamentamos algo do que pensamos ficar evidente enquanto uma boa intelecção a se trabalhar na Educação Religiosa, no ensino público, nas práticas, debates e diferenciações acerca destas construções conceituais.
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Este espaço busca ser um lugar de interação com contribuições em temas relacionados às Culturas Afroameríndias, suas diversas manifestações e contextos. Nos campos de exposição, apresento em forma de reflexões alguns textos sociais, históricos, políticos, teológico-religiosos e educativos. Também o universo das artes e literaturas são outras referências, leituras e aprofundamentos, conforme este processo de interlocução dialógica em construção.
Agradeço-lhe pelo interesse em reconhecimento e atenção ao nosso trabalho!
Atenciosamente,
Reinaldo.