por Reinaldo João de Oliveira
in Artigo: Teoafricanidades em diálogos e perspectivas.
Não há problema em se querer realizar outros caminhos para uma melhor resposta que possa aplicar outros métodos que até aqui ainda não foram tão considerados nas ciências, e isto já foi bem percebido anteriormente, neste aspecto que refletimos. Pois, como seria romper com um rígido modelo dualista grego para procurar caminhos que definem o ser humano mais integrado entre seu espírito, Deus e a alma humana, não vistas separadamente? Antes, trazemos a reflexão de outros teólogos que viram desafios e problemas dissonantes, entre os modelos que se pautam entre os padrões ocidentais de pensamento com os que se ligam ao da humanidade, e entre esses o modo africano (Waldomiro Piazza, Religiões da Humanidade, 1991, pp. 63-64).
Para uma concepção acerca das Teoafricanidades não podemos partir de um caminho estritamente determinista, como interpretação da teologia e do papel que o homem desempenha na história. Pois esta concepção da qual queremos apresentar neste estudo, se encontra enraizada em uma dialética negra e africana. Contudo, sem a pretensão de defender uma bandeira, como fez o Ocidente, considerando-se protagonista da causa da liberdade e interlocutor do resto do mundo, conseguindo unicamente criar uma separação (Eduardo B. Malumba, 1973, p. 99).
Professor Eduardo Bodipo Malumba (Ndòngo). |
Talvez um dos caminhos seja trilhar na fenda aberta para estes mundos, até aqui marginalizados, como um professor de Estudos de Religião desenvolveu na Cidade do Cabo, África do Sul, como ele mesmo escreve: “tento filtrar e apresentar de forma simples e assimilável as principais características e afirmações da Teologia Africana” (Gabriel M. Setiloane, Teologia Africana: uma introdução, no prelo).
African Theology: An Introduction - de Gabriel Molehe Setiloane |
Vejamos, porém, que outros caminhos são tão mais importantes e urgentes hoje, tais como: a valorização das culturas, as fontes de conhecimento em outras tradições e, em paralelo a elas, os direitos humanos como forma de implementação de políticas públicas voltadas para as realidades que ainda persiste deixar à margem pessoas que sofreram e sofrem com os males de uma sociedade desigual historicamente. Para estas “posturas”, como chamo, são necessárias muita formação de base para fomentar esta libertação sonhada, desde as Senzalas e os Quilombos atuais.
Nesta breve análise que trazemos para contribuição ao assunto dos caminhos, recorremos a uma pré-compreensão, onde refletimos que o lugar sociológico é também o lugar epistemológico; também considerar não apenas a partir de onde construímos pensamento, mas com o que o fazemos, e que material e temas usamos. Assim, creio que chegaremos a uma necessária crítica à ideologia de uma cultura “escrita” em detrimento da “oralidade”, própria das concepções de teoafricanidades (Reinaldo J. de Oliveira. A proposta de um ensaio de linguagem teológica visual, 2009).
É fundamental reforçar a compreensão acerca dos fatores que nos impulsionam e nos movem para um caminho de valorização, reconhecimento e afirmação como modos de praticar toda espécie de promoção humana vital. Mas, por que situamos todo contexto de antes para entrarmos nesta discussão? Será que quando remetemos olhares diversos, interdisciplinares, para a formação intelectual, caminhamos por horizontes epistemológicos que fogem à compreensão da própria construção desses saberes? Como em ocasião de refletir, percebendo a importância de se conhecer esses ‘vários olhares’ para entender melhor o que realmente se faz, muitas vezes superficialmente, referindo-se às identidades, às diásporas africanas, para os diversos contextos (Christian Muleka Mwewa, 2008). Há talvez, por isso, muita confusão por não entender, ou não querer mesmo – dialogar com “esse outro mundo” –, relacionado com o contexto das identidades locais (e uma idéia de identidade nacional).
O processo de afirmação de identidades implica entender antes o sentido que se busca afirmar e, sobretudo, considerar isso como algo importante já que se o que constatamos foi uma rejeição, que é exatamente a oposição dessa afirmação que é buscada. Sendo este um passo que parte de um pressuposto político e metodológico, que implica o entendimento vital e da fé, pela práxis, conforme um importante estudo nesta direção, que possibilita o aprofundamento dessas raízes contextuais afrobrasileiras (José Geraldo da Rocha, 1998).
Como caminhos, buscamos construir sonhos, utopias que mesmo quando sinaliza certa distância dos objetivos, muitas vitórias são também consideradas. Uma delas é o fato de mantermos acesa a chama do diálogo, do aprendizado mútuo. Fundamental, portanto, é ‘permanecer no movimento’, com a possibilidade de refletir a partir da teologia, resistindo aos mecanismos de dominação e hegemonias. Todos os fatores que nos levam grandemente a uma desarticulação e desmobilização, mesmo inconsciente, devem ser analisados com seriedade.
Há uma certa ânsia por ultrapassar paradigmas contestados nos vários cenários do tecido social, político e ideológico. Um desses é o da participação efetiva dos africanos e afrodescendentes em sua própria história, como resgate de sua identidade e afirmação, a partir de uma nova sistemática. Contudo, é possível perceber um caminhar, mesmo que lento, na teologia para outros modos, como forma de aplicação:
O modelo novo de teologia trinitária que está surgindo talvez não consiga, por falta de tempo e de conversão, da nossa parte, marcar as relações sociais e eclesiais do nosso tempo. Mas será determinante para a sobrevivência da Igreja e da humanidade dos tempos futuros! Na dependência da força desse modelo se encontram os movimentos libertários dos pobres, dos indígenas e dos negros, das crianças e das mulheres, das culturas e religiões oprimidas (Vitor Feller, 1995, p. 7).
Portanto, essa preocupação deve se desenvolver em uma leitura bíblica e teológica que condiga com a realidade e com uma interpretação adequada e libertadora dos sofrimentos e de toda realidade que ainda insiste oprimir os pobres no mundo – onde a teologia entra como “causa de libertação” contra injustiças históricas. À uma dessas injustiças, deixo aqui registrado a pesquisa do teólogo Masabo Damase, em sua tese de doutorado sobre “O drama dos Grandes Lagos” (cf. El drama de los grandes lagos (1993-1997): Esbozo de una teologia Bantú del sufrimiento. Roma, 2006) – e existe um vídeo que comenta sobre este assunto, no seguinte endereço: http://vimeo.com/7814024 - em outra postagem damos maiores detalhes para acessar, caso seja difícil com este site, por aqui. Resumidamente, o material trata sobre o silêncio cúmplice dos grandes meios de comunicação acerca do conflito genocida na região dos Grandes Lagos de África. O levantamento deste tema favorece um rico diálogo, que há tempos vem sido silenciado pelos grandes meios de comunicação.
Quanto às causas de libertação, no Brasil, numa análise mais geral, continuamos trabalhando sobre o enfoque do lugar teológico e das fontes da teologia a favor de uma aplicação favorável, desde que haja condições para tal desenvolvimento, com investimentos – o que infelizmente ainda se dá de forma muito reduzida, tímida, com pouca aceitação dentro das instituições de ensino que lecionam teologia, com "mais reflexões" e "menos ocasiões" (entenda-se também como poucas oportunidades) para fundamentá-las enquanto práxis.
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Este espaço busca ser um lugar de interação com contribuições em temas relacionados às Culturas Afroameríndias, suas diversas manifestações e contextos. Nos campos de exposição, apresento em forma de reflexões alguns textos sociais, históricos, políticos, teológico-religiosos e educativos. Também o universo das artes e literaturas são outras referências, leituras e aprofundamentos, conforme este processo de interlocução dialógica em construção.
Agradeço-lhe pelo interesse em reconhecimento e atenção ao nosso trabalho!
Atenciosamente,
Reinaldo.