terça-feira, 7 de dezembro de 2010

VI. LITERATURA GUINEENSE

Muitos dos pesquisadores que escreveram sobre a Guiné-Bissau, tem considerado de tardio a literatura guineense, pois, só depois da independência que começou-se a ver algumas publicações, muitas dessas primeiras obras publicadas após as independências foram escritas no período da colonial.

A literatura tardia guineense foi devido a política dos fascistas portuguêses que consideravam a Guiné uma colônia de exploração e não de povoamento. Por isso, implementaram tardiamente a política do ensino na Guiné-Bissau; só em 1958 que construíram o primeiro estabelecimento de ensino secundário, enquanto, em Cabo Verde foi em 1860. Até 1961 99,7% da população em excluídas no sistema do ensino. A imprensa também chegou muito tardiamente à colónia, em 1879, enquanto nas outras colónias ela foi instalada entre 1842 e 1857. A primeira editora pública, a Editora Nimbo, só apareceu depois da independência em 1987.

“ Por muito tempo o país ficou excluído quando se tratava das literaturas africanas. E praticamente todos os autores que se ocuparam até agora da literatura na Guiné-Bissau, devido justamente à precariedade de textos escritos por gente da terra, reservaram um grande espaço à literatura de temática guineense publicada antes da independência”.*
* (in Moema Parente Augel, Sol NA IARDI – PERSPECTIVAS OTIMISTAS PARA A LITERATURA GUINEENSE)

Os primeiros escritos no território guineense foram produzidos por escritores estabelecidos ou que viveram muitos anos na Guiné, muitos deles de origem cabo-verdiana. A maior para das suas obras têm um carácter histórico, com a excepção da de Fausto Duarte (1903-1955), que se destacou como romancista, Juvenal Cabral e Fernando Pais Figueiredo, ambos ensaístas, Maria Archer, poetisa do exotismo, Fernando de Castro, cuja obra dá conta das transformações sociais da colónia na época e João Augusto Silva, que recebeu primeiro premio de literatura colonial. A única figura guineense destacada neste período foi o Cónego Marcelino Marques de Barros que deixou de trabalho no domínio da etnografia, nomeadamente “ A literatura dos negros” e uma colaboração com carácter literário dispersa em obras diversas. Editou uma das suas obras em Lisboa, em 1900, intitulada “Contos, Canções e Parábolas”. Isso aconteceu no período antes do ano 1945.*
* (in artigo Filomena Embalo, Novembro de 2004.)

O período 1945 a 1970, deu o surgimento dos primeiros poetas guineenses: Vasco Cabral e António Baticã Ferreira. Amílcar Cabral, com uma dupla ligação à Guiné e Cabo Verde, faz parte desta geração de escritórios nacionalistas. A literatura deste período caracteriza-se pelo surgimento da poesia de combate que denuncia a dominação, a miséria e o sofrimento, incitando a luta de libertação.

Vasco Cabral era o autor com mais produção poética, a sua obra se orienta a partir dos anos 1960, para a realidade guineense. Em 1981 publicou o seu primeiro livro de poema intitulado “ A luta é a minha primavera”.

Nos períodos após a independência, 1973, houve algumas publicações no campo literário: Seis colectâneas, reunindo poemas escritos na década de 70 e em parte de 80:

• O poilão 1973;

• Mantenha para quem luta, 1977;

• Momentos primeiros da construção. Antologia dos jovens poetas, 1978;

• Os continuadores da revolução, 1979;

• Antologia poética da Guiné-Bissau, 1990; e

• Eco do pranto, 1992.

Resistirem-se ainda algumas obras de autores isolados: Carlos Semedo, 1963; Francisco Conduto de Pina, 1978; Vasco Cabral, 1981; Hélder Proença, 1982.

Num exercício dinâmico para afirmação da literatura guineense, os jovens revolucionários lançaram uma incitativa brilhante que representa o expeço crioulo na literatura. Os principias promotores deste espaço crioulo, figura: Hélder Proença, José Carlos Schwarz, Huco Monteiro, Armando do Salvaterra, Nelson Medina e Serifo Mané.

As obras do espaço crioulo são de temática diversificada e directamente ligada a vida do povo, apresenta uma qualidade superior às escritas em língua portuguesa. Em 1996 publica-se a colectânea Kebur.

Armando Salvaterra, uma voz pouco conhecida na área da literatura, escreveu muitos poemas em crioulo, alguns dos quais foram utilizados como letra de canções que ainda hoje estão na boca do povo. Tais como Mindjeris di panu pretu, Dispus ki e lebal, Estin.

Djibril Baldé, que só escreve em crioulo e ainda continua activo no acto de poetar, está ali representado com dois textos: Mininus di nha terá e Ndjudja bu ndjita, ambos expressando a esperança no futuro, diferente do passado vergonhoso, na certeza que para os “meninos da minha terra”, que são anjos e nem sabem disso (mininus di nha terra/ andjus sim sibi), “filhos de netos de Oquinka”, o bombolom está tocando, a tina está repicando, o nhanheiro está sendo ouvido”, pois afinal “chegou a hora em que o sol despontou, por detrás da cabaceira…*
* (in Moema Parente Augel, Sol NA IARDI – PERSPECTIVAS OTIMISTAS PARA A LITERATURA GUINEENSE)

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Este espaço busca ser um lugar de interação com contribuições em temas relacionados às Culturas Afroameríndias, suas diversas manifestações e contextos. Nos campos de exposição, apresento em forma de reflexões alguns textos sociais, históricos, políticos, teológico-religiosos e educativos. Também o universo das artes e literaturas são outras referências, leituras e aprofundamentos, conforme este processo de interlocução dialógica em construção.
Agradeço-lhe pelo interesse em reconhecimento e atenção ao nosso trabalho!

Atenciosamente,
Reinaldo.

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